Palavras da meia-noite
O passado é como uma fotografia velha em movimento. Olhamos, e se nos demorarmos o tempo suficiente conseguimos mais. Conseguimos ouvir, cheirar, sentir o calor dos momentos.
E demoramo-nos no passado, e demoramo-nos no presente. Ah, mas são tão diferentes. O amor não pode ser reciclado, o amor não existe sozinho. Existe o peso no peito, o calor na barriga, aquele desejo de felicidade para quem se gosta. Mas o amor é outro, a cor é outra, o som é outro.
Mas tudo é mais triste para ser menos triste. Tudo é menos livre para ser mais livre. A ingenuidade ficou retida na fotografia, a inocência está lá atrás e não volta porque somos mais rápidos. E o amor é tão diferente. Mais seguro e menos louco, mais táctil e menos sussurrado. E é tão bom assim.
Mas e a loucura? E o sussurro? Como pode haver rasgo se há quotidiano? Como pode haver sofreguidão se não há saudade? É ele que nos move, mais rápido mas menos potente. Menos impulsivo mas mais permanente. Equilibrado e plano. Mas e o pico e a depressão?
O meu peito estranha a superfície, a planície constante com pequenos montes. E se for preciso fugir? E se for preciso enlouquecer?
Que lindo. Que linda.
É o coração que sempre nos guia.